O Távora, afluente na margem esquerda do Douro, é o
principal rio do concelho de Sernancelhe. Nasce nos montes de Trancoso;
anteriormente tinha 60 Km de extensão; e num percurso de 14 Km em que o
seu leito não apresentava mudanças bruscas de nível, banhava muitas
freguesias de Sernancelhe. Na Faia recebia como afluentes pequenos
cursos de água: o Córrego do Poio, o Córrego da Galinha e o Córrego do
Jambão. |
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Sobre o Távora levantavam-se cinco
pontes medievais. As mais notáveis eram: a de Vila da Ponte que era
formada por
quatro arcos (três de volta inteira e um quebrado); a de Freixinho,
que vulgarmente chamavam Pontigo, formada por um só arco; a de Fonte
Arcada, que era a maior da região, tinha 110 metros de comprimento,
e era formada por quatro arcos.
Entre as pontes de Freixinho e Fonte Arcada, estendiam-se na margem
esquerda do rio, terrenos da Faia.
Neste ponto do seu percurso, o Távora que serpenteara por entre
margens rochosas, cobertas de fantásticos penedos, ao encontrar um
leito, que não tinha mudanças bruscas de nível, estendia
preguiçosamente as suas águas como se fosse um rio de planície.
Desapareciam as penedias para darem lugar ao panorama delicioso do
vale, rico de vegetação, cheio de poesia. |
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Estas margens pitorescas foram cenário de
muitos feitos de armas que tornaram vitoriosos os cristãos.
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Junto da ponte de Fonte Arcada, muito
perto da Faia, D. Afonso Henriques quando em 1140 regressava de
Trancoso, coroado de glória, bateu os mouros que tentavam embargar
às suas tropas e passagens do Távora.
Também nessas margens, D. Tedom e D. Ranzende descendentes de nobres
fidalgos da cavalaria medieval, venceram muitas vezes os mouros.
Liga-se aínda a este rio, o episódio lendário ou histórico (não se
sabe aínda), dos amores de Ardínia ou Ardinga por D. Tedom.
Ardínia era uma princesa moura, filha de Alboazã, rei de Lamego.
Corria por toda a parte a fama das vitórias de D. Tedom, cavaleiro
cristão.
Ardínia dedicou-lhe a sua dedicação e o seu amor e , certa noite, saíu do palácio onde vivia com o pai, para ir
procurá-lo às tendas dos cristãos, nas margens do Távora. D. Tedom,
ocupado na luta contra
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os mouros, estava ausente. Junto das tendas,
encontrou Ardínia um monge, a quem revelou o secreto amor que levara a
fugir de casa paterna e, enquanto esperam o regresso de D. Tedom, o
monge fala-lhe do Evangelho. |
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O pai de Ardínia, dando pela falta da filha,
correu furioso a procurá-la, e, quando a encontrou, afogou-a
impiedosamente nas águas do Távora.
D. Tedom ao regressar à tenda, foi informado do que acontecera. |
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Não podendo esconder o seu desgosto, faz voto de
celibato e torna-se monge. |
Assim, as margens do Távora foram
caminhos trilhados por cristãos e mouros, e as suas águas
testemunhas mudas de muitos feitos de armas, que foram contribuindo
para a formação da nossa nacionalidade.
Apesar de ser um rio caudaloso, não tinha importantes quedas de
água, não favorecia portanto a criação de grandes indústrias.
No entanto, oferecia outra riqueza: a pesca, que era abundante e de
que benificiavam várias povoações, sobretudo a Faia.
A água do rio era factor de acentuado valor económico; sem ela, os
terrenos graníticos marginais teriam sido menos produtivos e a
agricultura teria deixado de ser a principal riqueza da Faia. |
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