Se o meio geográfico é tão diverso de região para região, não admira que
diversas fossem, também, os materiais com que se construíam as casas e,
consequentemente, os tipos de habitação.
|
Numa zona com esta onde abunda o granito, teve de ser este o material
fundamental para a construção. As casas, construídas da rocha que
origina o solo, emergiam dele e com ele se confundiam.
Na Faia, poucas casas eram arrendadas. A melhor e
maior casa, que tinha três pisos, rendia 600$00 por ano; a renda das
habitações mais humildes oscilava entre 30$00 e 50$00 anuais. Como o
lucro seria insignificante, ninguém pensava construir casa para
arrendar. A preocupação máxima eram os prédios, porque deles
pensavam tirar os produtos que constituiriam a sua riqueza. Por isso
diziam:
"Casa onde
caibas,
terra que
não saibas."
As casa tinham geralmente dois pisos, agumas vezes três, e raramente
um. Era o tipo de casas que correspondia à pequena exploração
agrícola: as gentes no primeiro andar; os animais e os produtos no
rés-do-chão.
O aspecto exterior das habitações variava. Havia casas feitas só de
pedra (ver figura à direita), sem qualquer revestimento de cal ou de
barro, com iscaleiras exteriores, também de pedra, e sem
guardas dos lados; ao cimo das escadas era o patim; não tinha
janelas, apenas tinham a porta principal no primeiro andar e a porta
da loja no rés-do-chão. Algumas deste tipo tinham aínda como
prolongamento do patim uma varanda resguardada por um apêndio.
Eram cobertas de telha; as telhas assentavam sobre latas,
dispondo-se por baixo destas as trabes e os caibros que,
apoiados nas paredes laterais, sustentavam o telhado. |
 |
|
 |
Havia aínda outras casas que diferiam muito das
anteriores:
eram revestidas de cal e areia (foto à esquerda) ou
apresentavam a pedra como melhor acabamento (foto à direita); tinham
janelas, algumas vezes sacadas.
Em frente da casa havia geralmente uma quintã, com um quinchoso,
por onde deitavam
o licho e os restos de comida que não podiam ser aproveitados para
os recos
Saía-se da quintã pelo portal
que ficava no meio do muro que a rodeava.
No rés-do-chão ficava a loja que servia ao mesmo tempo de adega, de
celeiro, e nela arrumavam as alfaias agrícolas, botelhas, taleigos, etc.
Uma parte da loja também era corte do gado ou loja dos bois. A loja era
térrea mas, quando servia de
corte, ou aí guardavam batatas ou frutas, o chão era previamente
coberto de palha. |
 |
|
|
No primeiro andar estava a cozinha, a sala (quando a havia), e os
quartos. Os diversos compartimentos eram separados pelas taipas.
Quando não havia sala, entrava-se logo para a cozinha. As cozinhas
eram escuras, não tinham chuminé e, como não eram rebocadas
por dentro, apresentavam as pedras das paredes enegrecidas pelo
fumo; o chão era de
 |
terra batida e a lareira de pedra.
Algumas casas tinham a lareira num plano inferior ao do
pavimento; nessas, desciam dois degraus de madeira, para
chegarem junto do lume.
Por detráz da lareira estava a pelheira onde guardavam a
cinza. Para ascenderem o lume criavam raiva no borralho
com um pouco de palha ou vides secas até fazer lambras;
depois encostavam as vides ou a lanha ao moirão e
assim faziam as brasas; quando na tinha
borralho, ascendiam o lume com palitos ou carumba. |
|
 |
Em volta do lume punham os panêlos, os potes e as
cafeteiras, onde cozinhavam as refeições. Quando tinham que fritar
qualquer alimento, serviam-se da traipe que colocavam por
cima das brasas e , sobre ela, a sertã ou a frigideira. Por cima da
tampa da pelheira punham as tenazes e as tampas dos potes e
dos panêlos. Ao lado da lareira havia uma prateleira onde
punham os pratos ladeiros e outros pratos; as malgas, as enfúsias,
os panêlos de malga; as cânteras ou ptchôrras;
a amotilia e as aalmofias.
Pendurado na parede estava o tanheiro. Nas cozinhas raramente
exixtia um armário; quando o tinham, era lá que guardavam os
peguilhos, a panela com carne assada e a comida que sobrava da
véspera; quando não tinham armário, a masseira fazia as mesmas
vezes.
As cozinhas apresentavam um aspecto de pouca arrumação aqui punham o
caneco, a sogra, a gamela, além o baldo,
a tacoila ou guarda-joelhos e os alguedares.
Duas ou três cadeiras e uma mesa alta completavam o mobiliário da
cozinha.
A cozinha dava acesso aos quartos. O mobiliário destes era muito
reduzido: a barra de ferro, a arca da roupa, um lavatório de ferro,
ou de madeira, por vezes só a bacia sobre a cadeira. As mais pobres
nã tinham barra, dormiam nos bancos.
O inxergão, ps lãiçois (quando os havia), as mentas,
o trabesseiro e as cabeceiras, eram as peças que
compunham a cama.
A sala (que só existia em algumas habitações), tinha uma mesa no
centro, e, encostadas às paredes, várias cadeiras; sobre estas,
almofadas de cores garridas; na parede estava o relógio ou alguns
quadros e fotofgrafias; por vezes havia aínda um guarda-louça. Era
na sala que a família se reunia para as refeições nos dias de festa. |
|
|