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Fica esta freguesia, de uma só povoação, no extremo
nordeste do Concelho e a dez quilómetros e meio a nor-nordeste da
respectiva sede. Tem 255 habitantes em 109 fogos e 353 eleitores.

O nome de Chosendo é algo obscuro. Pinho Leal afirma
provir de “Chouza”, pequenas fazendas. “Chouzendo”, que se simplificara em
Chosendo, seria um conjunto de chousas.
Leite de Vasconcelos faz evoluir “Fluzendus” (nome
medieval de homem) para Chozendo. Seria originariamente a “vila” ou quinta
de Fluzendo (Fluzendi, genitivo latino), do qual, por via da palatalização
se formara Chuzendo.
Como todas as povoações localizadas na parte norte do
concelho, Chosendo fica em lugar frio e pedregoso, na encosta do Alto do
Drago, entre o cabeço de Santa Bárbara e a Cova da Moura, ramifizações que
são da serra da Zebreira. Entretanto não pode deixar de se dizer que esta
grande aldeia fica no abrigo da serra, voltada para nascente, embora
tendo, por detrás, serrania pedregosa e, aos pés, limitados campos de
cultivo.
Seus subúrbios são, pois, muito pedregosos. A
povoação faz hoje coexistir as povoações humildes, - mas de tipo
caracteristicamente regional, a que o granito dá um aspecto arcaizante –
como as de inspiração moderna, sobretudo de importação de países onde mais
demoradamente se postaram os chosendenses a viver e a trabalhar.

Perto do típico aglomerado, desdobram-se dois
pequenos vales, emoldurados das orlas pardacentas das colinas vizinhas. E
é nesta coroa topográfica de vale que se desenvolvem os terrenos das
culturas agrícolas do termo, enquanto nos montes meio alpestres, pastam os
cada vez mais raros rebanhos.
Quem está habituado à vegetação luxuriante de alguns
sítios com amenos vales e veigas a verdejar ou aos acprichosos acidentes
de outros montes e colinas pode estranhar esta aparente monotonia
paisagística. Todavia, não deixa de se revestir de estranho encanto este
canado urbano de encosta dupla sobre a Quinta da Foca, em cujo largo
fronteiriço se podem abastecer de água abundante pessoas e animais e as
mulheres têm a oportunidade de lavar a roupa suja no extenso lavadouro
público. E constitui raro momento do discreto bucolismo idílico assistir à
nascença tímida e ao crescimento audaz do minúsculo ribeiro de S. Miguel,
que engrossado pelas Fêveras, entra pelo Távora adentro, acabando de
neutralizar os germes naturais de uma perspectiva selvática que as
fímbrias montesinhas pareciam querer desenhar em torno de Chosendo. No
entanto, seno descuidar-mos e lançar-mos os olhares lá para as bandas de
Penedono, havemos de convir que se possa falar em desolação que uma certa
envolvencia crie no ânimo do espectador menos atreito a cenários deste
jaez.
O horizonte Chozendense tem grandeza. Não lhe serão
estranhos os contornos sombrios e vagos da Serra da Estrela, cuja silhueta
se desnha lá ao longe, ou os mais defenidos detalhes da serra da Lapa e de
Leomil, com as varandas das elevações montanhosas de Caria e da
Borralheira, a aflorar mais ao perto.

Chosendo é das freguesias que, desde o seu início,
fizeram parte do alfoz de Fonte Arcada, cujo concelho integrou, até que,
em 24 de Outubro de 1855, passou para o de Sernancelhe. Pertenceu à
comarca de Pinhel, depois à de Trancoso e agora integra a de Moimenta da
Beira. Até 1834, era o vigário de Fonte Arcada que apresentava o cura. O
curato de Chosendo fora criado sob a protecção e auxílio da matriz daquela
Vila.
A Igreja Paroquial, dedicada a S. Miguel Arcanjo, foi
construída (ou então profundamente remodelada) em 1732, com atesta a data
inscrita no arco-cruzeiro que abre a capela-mor e define a principal praça
da aldeia, sombreada por negrilho gigante.
A capela-mor da igreja tem um altar de talha dourada,
provavelmente de princípios do século XVIII, com uma belíssima tribuna.
No centro da freguesia, levanta-se um pequeno
chafariz, contruido em 1692, de gosto renacentista, mas muito singelo. Mas
há várias outras fontes, mais utilitárias e menos artísticas.
As sepulturas cavadas na rocha, de feição
antropomórfica, indicam povoamento com certa antiguidade.
A par do casario mais rústico, descortinam-se casas
de gente importante, fidalga mesmo, mas que nunca terão dado pedras de
armas.

Como nota de peculiar curiosidade, diga-se que a
aldeia está protegida por capelas postadas cada uma por assim dizer a seu
ponto cardeal. A ermida de Santa Bárbara é o baluarte simbólico da
protecção contra as trovoadas e incêndios. A do Senhor dos Aflitos guarda
dois ex-votos pintados, testemunhando uma das modalidades da fé nos finais
do século XIX e no dealbar do século XX. A do Mártir S. Sebastião assinala
o resguardo divino da freguesia contra a peste, a fome e a guerra – a
trilogia flagelatória de povoados inteiros ao longo da história da
humanidade.
A capela do Senhor dos Passos ou do Senhor do
Calvário, frente ao cemitério e ao lado do polidesportivo e da nova sede
da Junta de Freguesia, com restauro de há poucos anos, polariza toda uma
postura devocional com acento especial na época quaresmal e nas
festividades de Verão. As festividades do Senhor do Calvário ocorrem
habitualmente no 3º Domingo de Agosto.
A freguesia dispõe das condições que a civilização
foi impondo aos habitantes de cidades, vilas e aldeias, como condição
sine qua non do progresso humanizante e sustentado.
Chosendo vive da agricultura, que permite sobreviver.
Teve, contudo, nos últimos tempos, um notável incremento a plantação de
novos soutos a emparceirar com os velhos e ancestrais castanheiros, que
são um factor de promissão para a continuidade da produção da famosa
castanha, verdadeiro ex-libris do concelho e não só. É de considerar
também o papel do pequeno comércio e de alguma indústria, nomeadamente da
serralharia de ferro e do alumínio.
Destaque especial merecem aquelas quintas de bom
cultivo que se encontram descendo para a ribeira de Fêveras a caminho do
Seixo, da freguesia de Sarzeda. Ali moram tecedeiras de colchas de linho,
algodão e lã e outros panos. Exibem uma discreteada arte antiga ora
recuperada e remoçada de vigor. Ouvir o tear, olhar a magia dos fios
coloridos a cruzarem-se ou comprar uma colcha ou um tapete – serão
pretexto ou mesmo motivo para uma deslocação.
Texto:
Abílio Louro de Carvalho
Da Varanda do Távora – página 195
Sernancelhe na Marcha da Corrente
Edição Câmara Municipal de Sernancelhe 2002
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