Tabosa |
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Viuvando pela segunda vez, D. Maria Pereira entregou-se a obras de piedade e devoção. Neste contexto psicológico e espiritual, empreendeu fundar, em 1690, na sua Quinta da Tabosa, o Convento de Nossa Senhora da Assunção (hoje discutida e polémica propriedade particular), ao qual legou todos os seus bens. As monjas seguiam a regra Benedita, reformulada por S. Bernardo de Claraval, pelo que se tornaram conhecidas por religiosas ou freiras bernardas, do ramo cisterciense. À sombra deste convento se foi constituindo a povoação da Tabosa, hoje com bastantes habitações, que oscilam entre o tipo de construção tradicional e o ditado pela modernidade. Seja como for, Tabosa é marcada pelas dimensões da mola severa do Mosteiro, mais em ruínas que em estrutura, com a sua igreja aberta ao culto e mantida pelo cuidado dos populares orientados pela sabedoria sagaz do pároco actual. O granito é ainda o elemento que dá o tom com que a povoação se mostra ao viandantes. A cerca ostenta, embora na letargia que se apoderou da agricultura um pouco por todo lado, reais potencialidades agrícolas, pela fertilidade dos terrenos e pela abundância de água, a par das estruturas que uma grande quinta teve o ensejo de ir construindo e mantendo. Foi a extinção das ordens religiosas em 1834 que deu azo à ruína do Convento. Quer dizer que o decreto de Joaquim António de Aguiar cavou a morte das instituições, a depressão das pessoas e a ruína dos imóveis – grande ironia do liberalismo das liberdades! Deste convento de Freiras bernardas restam, por conseguinte: a Quinta, com mata de carvalhos e campos de cultivo; as ruínas do convento; a Igreja, com memória acarinhada da piedosa D. Maria Pereira; e os fálgaros, que persistem como espécime da culinária conventual. São os fálgaros uma especialidade culinária confecionada com farinha, queijo e ovos, doseado tudo com aquele “segredo” que escapa à dinâmica das palavras ou à linearidade dos caracteres. Das ruínas conventuais, ainda se podem divisar com algum grau de incolumidade: alguns muros até ao nível do 1º piso, o claustro amplo, a sugestiva Torre do Mirante e o impressionante pórtico, onde ficou solitária a estátua de S. Bernardo, e, como se disse já a Igreja que serve o povo, que a vai mantendo e ornado, exibindo toda a riqueza e arte da imaginária e da talha dourada. Na Tabosa ainda se podem apreciar várias capelinhas, um cruzeiro, uma casa fidalga e uma fonte de mergulho, obra do século XVII.
Texto:
Da Varanda do Távora |