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Porque o padroeiro é Santo Estêvão teve esta denominação que recentemente
recuperou. O epíteto de Forca, de que os habitantes de antigamente não
gostavam (e com razão), proveio do facto do último condenado à morte pela
forca, em Portugal, Manuel Pires, homiziado pelos montes circundantes, ter
sido aqui detido e manietado. O facto não devia ter maculado a povoação
pobre e inocente. Mas sempre foi e continua a ser quase impossível
silenciar certas bocas inconvenientes. A título de curiosidade, diga-se
que o delinquente sobredito foi julgado e condenado no tribunal de Caria
(hoje a Vila da Rua, onde está o Pelourinho e a Casa da Câmara e da
Cadeia), fez penitência na igreja do Convento, em Moimenta da Beira, e foi
executado no lugar do estilo, na Rua.

Aldeia de Santo Estêvão era uma pequenina povoação assente em sítio
mais agreste que o do Carregal. Mas é uma espécie de oásis entre penhas
bravas e alcantis cortantes. A capela de Santo Estêvão, reedificada em
1880, antes alvejada como única mancha branca a recortar-se no negro
granito das rústicas habitações. Hoje essa capela foi substituída e
absorvida por uma sumptuosa Igreja, obra do último lustro do século XX,
dedicada ao mesmo Santo Estêvão em cerimónia presidida pelo prelado
diocesano, Dom Américo Couto de Oliveira, que nesse mesmo dia, como
primeira Visita Pastoral à localidade, ministrou também o Sacramento do
Crisma. A obra nasceu da vontade férrea do povo, secundada pela habilidade
generosa do pároco, Padre Lucas Ribeiro, o octogenário eclesiástico que
acompanha aquela gente desde há mais de cinquenta anos, e apoiada
logisticamente e financeiramente pela Câmara Municipal de Sernancelhe.

De terra quase inóspita de antigamente passou a gozar dos
benefícios da modernidade: Jardim de Infância e Escola do 1º ciclo; águas
domiciliárias e saneamento básico; elegantes e funcionais fontanários,
bebedouros e lavadores públicos; regadios; todas as ruas devidamente
valetadas, drenadas e calcetadas; nova ponte e óptima estrada de acesso em
tapete betuminoso. As línguas mais brejeiras até lhe chamam Nova Iorque,
dada a profusidade da sua iluminação nocturna.

Hoje mantêm-se as casas de granito, porém menos negro. Mantém-se no
cimo do povo, integrada em casa fidalga do século XVIII (1745), quase
arruinada, uma bela e elegante capela – dedicada a Santa Quitéria -,
propriedade particular a que ninguém parece ligar. O casario já sentiu os
benefícios, embora equívocos, da modernidade e da emigração. A terra (que
se bastava a si própria com as suas courelas de pão e lameiros de gado e
os moinhos do ribeiro) é farta em termos agrícolas, florestais e
pecuários. E os produtos hortícolas são um mimo. Os pastos e as forragens
são de abundância. Pelo que o leite e a carne são uma das fontes de
subsistência. Também o pequeno comércio se instalou. E há quem se aplique
à construção civil e ao negócio das madeiras.
A Igreja hoje branqueia mais, mas não é já o único ponto da brancura da
Aldeia de Santo Estêvão!

Texto:
Abílio Louro de Carvalho
Da Varanda do Távora – página 191
Sernancelhe na Marcha da Corrente
Edição Câmara Municipal de Sernancelhe 2002
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